segunda-feira, 6 de junho de 2016

Tomojiro Ibaraki–primeiro monge budista no Brasil

Blog da imigração japonesa ao Brasil

A incrivel história do monge Tomojiro Ibaraki (1886-1971)

Na sua organização da leva do Kasato Maru, Ryu Mizuno visitou um templo budista. Ali solicitou aos Sumos Sacerdotes que indicassem um monge disposto a acompanhar os imigrantes, a fim de prestar assistência religiosa a eles. Seria também missionário, que iria levar o Budismo ao Brasil, ao outro lado do mundo. Por livre e espontânea vontade, apresentou-se um jovem monge, de 22 anos, Tomojiro Ibaraki.

Entretanto, o monge era solteiro, e uma das exigências para se emigrar era ser casado. Por isso foi providenciado às pressas um casamento arranjado. Casou-se com Tiyo Yasumara, seis anos mais velha que ele, em 20 de abril de 1908, oito dias antes do embarque ao Brasil. Mas, não bastava casar-se, pois o governo brasileiro exigia que todo imigrante deveria ser parte de uma familia de pelo menos tres pessoas. Por isso “adotaram” um rapaz, Shintaro, de 14 anos. E assim formou-se a familia, toda ela arranjada. É provavel uma das familias, que tinha mais de um filho, “emprestou” Shintaro ao monge, para possibiitar a montagem da familia.

Ibaraki Tomojiro lista Kasato Maru
Registro da “familia” Ibaraki na lista do Kasato Maru. As idades citadas na lista são um ano a mais, pois naquela epoca os japoneses consideravam que quando a pessoa nascia, ela já tinha um ano de vida.

Entretanto, ao chegar ao Brasil, Ibaraki não teve apoio dos fazendeiros. Eles não desejavam monges, e sim agricultores. Por sua vez, Mizuno se esqueceu de tratar antecipadamente com os fazendeiros da necessidade de um monge. Para piorar ainda suas agruras na chegada, um fiscal da alfandega confiscou alguns apetrechos do monge, que serviam para criação de bicho-da-seda.

Ibaraki Tomojiro
Tomojiro Ibaraki

Os imigrantes trabalhavam incessantemente, se esquecendo dos ritos religiosos. Também não havia templos budistas, locais para cultos. Por tudo isso o monge Tomojiro Ibaraki, sem apoio nenhum, viu-se forçado a trabalhar na lavoura para garantir sua sobrevivência.

Graças ao seu trabalho na lavoura, conseguiu montar uma livraria em Registro, Sp.

Em 1923 foi visitar um amigo, antigo funcionário da empresa de emigração de Mizuno, Shurei Uetsuka, em Promissão, Ps. Encontrou-o quase cego.  Ibaragui fez uma série de 4 horas de orações, durante uma semana, pela cura do amigo. Milagrosamente Uetsuka recuperou a visão. Igaragui era mesmo milagreiro, como veremos mais tarde.

Uetsuka então convidou-o para se instalar na Segunda Colonia Uetsuka em Guaimbe-Sp, a fim de praticar a cultura do algodão. Ibaragui aceitou o convite e para lá mudou-se.

 Conta-se que em 1926 ele andava pela sua plantação com um recipiente de água, e ia aspergindo os algodoeiros, benzendo-os; e recitando orações budistas. Por isso, muitos diziam que ele estava ficando maluco, que conversava com as plantas,  e passou a ser alvo de piadas. Passado alguns dias, uma forte chuva de granizo caiu sobre as regiões algodoeiras, dizimando toda a colheita. Milagrosamente somente a plantação de Ibaraki sobreviveu, o granizo não caiu sobre a sua plantação. As orações do monge surtiram efeito.

Com o granizo e a queda da oferta, o preço do algodão foi às alturas. O monge teve um lucro enorme. Com este dinheiro, voltou ao Japão, para reciclagem de seus conhecimentos budistas; e para organizar e levantar recursos para fundação de uma colônia agrícola aqui no Brasil, formada para os adeptos ao budismo. Solicitou verba ao governo japonês e auxilio das autoridades budistas, mas não arrecadou nenhum centavo.

Frustado, resolveu então voltar ao Brasil em 1929, após dois anos de ausência, deixando aqui a esposa Tiyo sozinha. Dirigiu-se a Curitiba para tratar de assuntos da sua tão sonhada colonia com Ryu Mizuno, que residia naquela cidade.

Quando finalmente voltou às suas terras, em Guaimbe-Sp, constatou que elas tinham sido vendidas pela sua esposa, durante sua ausência. Ibaraki tinha realmente ordenado a esposa que fizesse isso, tão logo aparecesse um bom comprador. Acontece que a esposa tinha voltado ao Japão com o dinheiro da venda, para lá encontrar-se com ele.

O navio que levou a esposa ao Japão fez uma parada em Cidade do Cabo, Africa do Sul. No mesmo dia, o navio que voltava do Japão com Ibaraki fez também parada na mesma cidade. Entretanto, quis o destino que eles não se encontrassem naquele porto, e cada um seguiu viagem sozinho e em direções opostas.

Ibaraki escreveu então uma carta a ela, enderençando na residência dos pais de mesma, pedindo a volta, dela e do dinheiro. Recebeu como resposta um comunicado de parentes dizendo que ela tinha falecido. Jamais saberemos que fim teve o dinheiro da venda das terras.

Ibaraki contava com esse para realizar seu sonho de formar uma colônia agrícola budista, e viu seu patrimônio, fruto de mais de quase 20 anos de trabalho, virar pó. Desde então passou a viver em precárias condições, realizando ritos budistas em locais cedidos por amigos. Passou por dificuldades e privações para poder continuar seu trabalho religioso entre os imigrantes. Vencendo todas as adversidades, Ibaraki conseguiu admiravel progresso no seu incessante e incansável  trabalho, construindo templos, formando discípulos, enfim difundindo o Budismo no Brasil. 

É  hoje uma figura proeminente entre os adeptos budistas brasileiros. É considerado o introdutor da religião no Brasil.

Ibaragui faleceu em 01 de novembro de 1971, aos 85 anos, em Lins, Sp. No dia do seu funeral, toda a cidade parou.

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Templo budista Taisenji Homom Butsuryushi , Lins, Sp.

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Um comentário:

  1. *** Boa tarde, amigo. Ótima sua pesquisa. Sou de Lins, tenho 79 anos e conheci pessoalmente Ibaraki. No barracão que se vê ao fundo (nesta última foto) havia a prática do budismo. As crianças chamavam o Templo de então de "bate pauzinho" - contudo a cidade é Guaiçara e não Guaimbê. Deve ser erro de digitação. Guaimbê também esta localizada nas imediações de Lins, mas fica perto de Getulina. Um abraço e parabéns pela pesquisa.

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